A cena passa-se por detrás da História.
Sugere-se uma cela em forma de "sela de cavalo":
côncava para fora, até ao infinito do infinito,
convexa para dentro, até ao electrão do electrão,
(o que, possivelmente, não é a exacta interpretação einsteiniana...)
mas que serve os desígnios do inumerável.
O cenário representa o Universo incompleto
– ainda não foi inventado o Homem.
Ao centro, está Deus.
.
Para facilitar a compreensão, tem um aspecto humano.
Deveria abarcar todo o Universo,
mas sugere-se que se represente assim
– que pareça que o Universo o envolve –
para não ter o espectador e Deus,
logo de princípio, uma sensação demasiada de solidão.
.
Ao fundo e à direita, ao alto, o Sol.
.
Deus está no centro do Universo – o palco –
visto o Universo ser infinito
para fora (e para dentro!) em todas as possíveis direcções.
Imagine-lhe o espectador um aspecto físico qualquer.
Com a condição só,
de ter em conta a possível lembrança da perfeição –
necessariamente subjectiva e limitativa,
por isso mesmo objectiva e pontual.
Seria, no entanto, conveniente, que o Deus representado,
não fosse de forma alguma, de maior estatura que o Homem.
Nem mais pequeno.
E que a largura dos ombros e da testa dos dois,
fosse exactamente da mesma dimensão, para que
o limite das proporções dum, em relação ao outro, e vice-versa,
não deixe margem a conferir hipóteses de predestinação,
ao limiar da peça;
.
para o que acontecer em cena,
seja apenas a consequência precisa e única
dum equitável preestabelecido,
no mutável do tempo e na circunstancial
substantivação químico-psicológica das leis da matéria.
O resto do cenário é indiferente: pinte-se lhe as cores que se quiser,
acenda-se-lhe ou apague-se-lhe as tonalidades do inevitável verde,
ou cinzento que vá na alma de cada um.
Nem precisa uma réstia de mar,
para ter-se a certeza de que há o mar a circunscrever os horizontes.
.
Entre o Deus e o Sol há uma árvore,
uma macieira de dar maçãs, mas, por razões ainda obscuras,
a macieira tem apenas um fruto verde,
entre folhagem verde, de forma que mal se vê...
Ligeiramente à esquerda, uma razoável porção de barro.
.
A personagem do meio da cena,
esse Deus inevitável centro do Universo,
começa a mover-se, dando alguns passos em frente
e parece que vai falar.
.
Até aí, desde o princípio do Tempo,
nada acontecera de significativo nem de significante.
Nem dilemas, nem lutas, nem modificações de nada.
Apenas um todo estático, em expansão, mas estático.
Inerte. Mas latente.
Encerrando em si mesmo o fermento da transformação,
na forma e na acção, (de) forma a sair do círculo.
Mesmo que só para passar a um outro círculo (ciclo)
de-grau superior.
E assim por diante. Até à consumação do Tempo.
E ao seu domínio.
Até que, ao limiar do fim, seja encontrada a sua/nossa vontade:
a comunicação das almas/a plenitude do ser.
.
Quando isso acontecer, ou seja,
quando o Deus do meio do palco romper a primeira palavra,
começam a abrir-se todas as portas.
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