segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

PASSEIO DOS POETAS, INAUGURAÇÃO

........O meu poema, na íntegra:
 .
POEMA À ALFARROBEIRA
 .

Aqui, respiro a tranquilidade desta alfarrobeira
impassível às monções do tempo,
o tumulto das estrelas circulando.
 .
Ela desconhece o meu culto a estes lugares
esta sensação de entardecer as cinzas
no lugar das memórias,
e no entanto,
parece que entende o meu regresso comovido
na premunição de estar aqui
e aqui respirar a sua presença chã.
.
Deita sobre mim a sombra
do entendimento reencontrado
com folhas dóceis rumorejando raízes antigas
da inocência.
 -
Cala-me a voz
se ouço o mesmo pintassilgo incerto,
se vejo um traço de frescura na pele dolorida
do seu tronco,
um aroma vagaroso nas silvas
que debatem as leis da terra.
 .
A minha alfarrobeira aqui plantada
transporta-me a um passado urgente
de cenas inacabadas
idas em cinzas, em redemoinhos de ar
ao outro lado dos vestígios das aras primitivas,
a seiva rústica, primitiva, do meu sangue.
 .
 ...........................................
 -
O grande poeta Leonel Neves, já falecido, também ficou aqui perpetuado.
A representá-lo esteve sua filha, Ana Maria. 
E eu, seu primo, fui indigitado para ler o seu poema.
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Ana Maria plantando a alfarrobeira de seu pai.
-
 Eis o excerto do poema, agora gravado em O PASSEIO DOS POETAS.
 
(…)
-
A amendoeira, de namorar…
Amante esplêndida, a figueira…
Mas moça séria, para casar.
……- a alfarrobeira!
.
(excerto)
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O Dr. Júlio Barroso (o segundo, na imagem), presidente da Câmara Municipal de Lagos.

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Ao fundo e ao centro, Deodato Santos, promotor e organizador do evento.


A sessão está a terminar. A noite vem aí.
O evento encerrou com um concerto no Centro Cultural de Barão de São João, com notáveis interpretações em guitarra clássica, flauta e violoncelo, por Paulo Galvão, João Bandarra, Joaquim Galvão e Bruna Melia. 

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* Gravaram as lajes, Xico Roxo e Deodato Santos, a quem muito se agradece.
*As fotografias são de Filomena Carmo e Antonieta Pestana.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

25 de Abril de 2013

A COMISSÃO DE HONRA
em Correio de Lagos
Ao centro: General Ramalho Eanes (antigo Presidente da República) e Esposa.
O evento será promovido pelo Director do Correio de Lagos 
- Comendador Cândido Igrejas (ao centro).

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

LIVRO PROIBIDO



O meu livro de poesia “Os Sinais da Terra”, 
foi proibido pela Censura/Pide, em 1962, 
pouco tempo depois de ter saído. 


Vão fazer 50 anos, que a notícia me chegou às mãos, por um amigo, dono duma livraria.
Aqui se mostra o boletim enviado aos livreiros, dando conta da proibição.
O livro consta da obra “Livros Proibidos no Regime Fascista”, da autoria de Maria Luísa Alvim e está catalogado com o número 360.

clicar para melhor ler

quinta-feira, 21 de junho de 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CONTOS DE BARÃO

APONTAMENTO DE REPARTIÇÃO
.


Tinha perdido as últimas esperanças. Agora era um predestinado, como os outros. Tinha uma cadeira para sentar-se, uma secretária vertical, à frente, carimbos, papéis, mais papéis e a configuração rectangular da sala. O resto era igual a tudo o resto - paredes lisas e verticais, tecto horizontal do fumo dos cigarros com filtro, estantes polidas do roçar dos livros das coisas dos outros, luzes oblíquas, máquinas de calcular o tempo e, por cima de tudo, o inconcebível tempo.                                                  
Mas o que mais solenemente o aborrecia era estar entre coisas velhas, gastas - peças de repartição, das autênticas!...           
Pensou que o termo funcionário é duma lucidez espantosa.
Funcionário! - Dez, quinze, vinte, trinta anos, sentado, no mesmo lugar, às mesmas horas, a escrever os mesmos números!...
Na sala havia um velho relógio de parede, também peça de museu - reparou, quando, depois de receber as primeiras instruções do chefe, olhou à volta, numa tentativa de síntese rápida.                   
... E os outros também irremediáveis funcionários a aproveitar a oportunidade para pôr os braços em descanso, sob pretexto de curiosidade indefinida.                                  
... E as janelas, fechadas, fechadas por causa do frio e cortinadas por causa do sol.                            
... E o chão da sala em paralelipípedes de madeira castanha.
... E o relógio, subitamente, visto mais de longe, sem ponteiros!
Sentou-se no lugar que lhe indicaram e não desgostou. Era ao fundo da sala, escondido, bom ponto de observação. Por uma réstia de janela miraculosamente aberta podia até ver-se um céu azul e nuvens brancas em liberdade.                                       
Mas, de repente, a curiosidade dos outros, agora mais definida:
"Que habilitações tem? Tem o curso do Comércio? "                             
"Não, não... Tenho o curso do Liceu... "
"Ah, melhor... melhor!... Por que não concorre para aspirante? Concorra! Concorra! "
Vozes de todos os lados: "Concorra!... concorra!... "
rrr... rrr... 
Concorra, concorra!...
rrr... rrr...
De todos os lados: rrr... rrr...                                           
"Bem… eu... Talvez... " - Sentia-se um pouco confuso.
"Concorra, concorra!... "
 rrr... rrr... rrr...                                        
Nada feito.           
O relógio marcava cinco e vinte. "
Nunca mais chegava a hora de sair!                                            
E só quando olhou outra vez o relógio, é que notou que os ponteiros estavam parados.
Eternamente parados.
Eternamente parados, à espera das derradeiras cinco e meia que nunca mais viriam.

quinta-feira, 8 de março de 2012

O CARNAVAL E A QUARESMA

CARNAVAL
.

Rigorosamente, segundo Bula Papal datada do ano 350 da Era Cristã, o período da Quaresma começa logo a seguir ao Carnaval, um segundo depois da meia-noite de Terça-feira de Entrudo. Mas, entre nós, a determinação do papa Júlio I, há muito tempo que foi relegada para o esquecimento.
Os padres bem podem vestir a paramenta roxa da quadra religiosa, mas ela só adquire o seu verdadeiro sentido e efeito, quando se escoarem os restos festivos da festa pagã do corpo. E isso só virá a acontecer... Quaresma adentro!
E é assim que naquele Entrudo de há cinquenta anos, o último baile de Carnaval haveria de durar até já bem depois do nascer do sol!... Aliás, como era costume naquela Sociedade Recreativa – a mais castiça, a mais genuína da cidade – o Marítimo!
À meia-noite – e certamente não para anunciar o princípio da abstinência, recolhimento e oração –, as luzes da sociedade apagaram-se e acenderam-se três vezes. Era sim, para a saída das máscaras! A partir daí, só era permitida a presença dos sócios, e todos deveriam ter a cara a descoberto, para a continuação do baile.
A porta de entrada foi fechada. Não era para ninguém entrar, mas sim… para ninguém sair! As janelas, essas, tinham as gelosias corridas… muito provavelmente para esconder a claridade do sol, quando ele viesse.
A orquestra “Os Merry Boys”, muito popular na época, encetou a parte final do baile, com marchas, slows e tangos, tão do agrado dos mais velhos, já com a perna cansada.
E a cada nova série, os mancebos iam buscar as moças que se encontravam disponíveis, num cerimonial cortês, de grande galhardia e leveza.
Depois havia de tudo: o puro prazer da dança, ou as promessas de amor, a volúpia disfarçada e a luxúria possível a coberto do tango ou dos slows, sob o olhar atento das mães e avós que se sentavam ao redor do recinto, a espreitar qualquer indício de rebaldaria.
A noite avançava sem ninguém dar por isso. Percebia-se, sim, o cansaço que se via nos rostos, e a humidade que pairava no ar e se condensava nas vidraças, misturada com o aroma ácido do bom azeite desses tempos, a fritar postas de moreia, no bufete. Os homens tinham posto de lado o casaco e aberto o colarinho da inevitável gravata. As camisas colavam-se ao suor dos corpos.
Eram quase seis da manhã, quando começou o baile mandado, mandado a preceito por um mandador de ocasião, que ensaiou as primeiras quadras, ao som da música, que começava a ameaçar tornar-se frenética!
– Vai de roda! Vai de roda, sem parar!
.
Dá-lhe um toque mais acima
dá-lhe um toque mais abaixo
dá-me a tua pintassilga
pra brincar com o meu cartaxo!
.
Esta noite toda a noite
uma menina e mais eu
coitadinha não sabia
todo o trabalho foi meu!
.
Uma velha muita velha
foi mijar ao rocio
deu-lhe o vento na lòlinha...
até mijou de assobio!
,
E foi então que alguém gritou:
– O corridinho!... Vai tudo dançar o corridinho!
Mesmo as velhas saltaram dos lugares e algumas foram buscar os já meio-bêbados maridos que bebiam copos de vinho tinto e medronhos, no bufete!
Na sala de baile, os pares rodopiavam, ensaiando os passos, as "escovinhas" e as correduras próprias da tradição e dos floreados do acordéon. Multiplicavam-se os encontrões e as pisadelas dos menos lestos. A água de condensação começou a cair do tecto, em grossas gotas. Mas a pura alegria voltava aqueles rostos cansados. Festa é festa! E só no ano seguinte haveria outra igual.
Por fim, ao fim dum tempo, os pares foram rareando, esgotadas as forças dos mais velhos. Mas os resistentes não davam mostras de abrandar e muito menos desistir.
– Siga o baile!... – ouvia-se com frequência.
Até que, umas boas duas horas depois de ter começado a sucessão interminável de corridinhos, uns a seguir aos outros, o presidente da colectividade subiu ao palco, mal podendo respirar, e anunciou em voz grave, mas contrafeita e entristecida.
– Prezados consócios!... O baile tem de terminar. São quase nove e meia da manhã!...
E, após uma pequena pausa para recuperar o bafo, rematou, ofegante, suado até à medula:
Mai logo há matinè... às quatro da tarde!...